Chevron (NYSE: CVX) teve suas atividades na Venezuela congeladas

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A Chevron (NYSE: CVX) teve mais uma vez suas operações na Venezuela paralisadas, com o gabinete do presidente dos EUA Donald Trump ordenando que a gigante do petróleo interrompesse as exportações do país, mas concedendo uma licença muito restrita para continuar operações essenciais de manutenção. Dessa vez, todas as manobras foram realizadas sob sigilo, em meio a um agressivo lobby e negociações políticas de

bastidores sobre um dos dilemas mais sensíveis da política externa de Washington.

“Isso marca uma mudança: não na substância, mas na transparência”, escreveu o economista venezuelano Francisco Rodriguez em um post no X. “Enquanto as licenças gerais relacionadas à Chevron no passado (tanto sob a administração de Trump como de Biden) foram publicadas online, essa continua confidencial.”

Ele argumentou que essa estratégia dá ao governo dos EUA flexibilidade para alterar os termos no futuro e proteção contra críticas políticas, principalmente da “linha-dura que se opõe a qualquer envolvimento com o setor petrolífero da Venezuela”. A disputa tem sido intensa, com a Chevron e o magnata da energia da Flórida, Harry Sargeant III, defendendo mais engajamento – e negócios – com o governo de Nicolás Maduro e o regime que o mantém no poder. Em contrapartida, o secretário de Estado Marco Rubio e os congressistas Carlos Gimenez, Mario Diaz-Balart e Maria Elvira Salazar – todos representantes da Florida e com laços estreitos com as comunidades cubanas e venezuelanas de exilados do estado – querem sufocar o ditador economicamente.

No centro do debate está a velha questão de se uma abordagem conciliatória funciona melhor do que sanções rigorosas, e embora nunca tenha havido uma resposta definitiva, um fato permanece: a Venezuela continua sendo um ponto geopolítico crucial para os EUA, impactando segurança de fronteiras, imigração, tráfico de drogas, lavagem de dinheiro e política energética. Enquanto isso, o fracasso está sendo distribuído para todos, menos para Maduro e Cia.

Trump tentou aplicar sanções rígidas em seu primeiro mandato, quando os ativos da Chevron no país foram congelados pela primeira vez. O ex-presidente Joe Biden afrouxou algumas restrições em 2022 em troca de promessas de reforma democrática que nunca se concretizaram. Depois de roubar uma eleição presidencial no ano passado, o Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela nem sequer tentou tornar os resultados das recentes eleições regionais e parlamentares — amplamente consideradas fraudulentas parecerem reais. Ignorando recomendações da literatura acadêmica sobre estratégias diplomáticas e teoria dos jogos que sugerem uma combinação de punição e incentivo de maneira estratégica e cuidadosamente calibrada, Maduro aceita todas as concessões sem hesitar diante das sanções. Ele adotou uma estratégia de longo prazo, apostando que Washington eventualmente se aborrecerá, ou irá se distrair e mudar o curso.

A máquina de propaganda venezuelana já está tentando retratar o último movimento envolvendo a Chevron como uma vitória.

“A notável falta de alarde na mídia estatal da Venezuela sobre as mudanças recentes na licença da Chevron, enfatizando que a gigante energética dos EUA manterá presença no país e que haverá ‘outros mercados’ para o petróleo venezuelano (leia-se: China)”, escreveu Geoff Ramsey, pesquisador sênior do Adrienne Arsht Latin America Center da ONG Atlantic Council.

Então, o que qualquer um pode fazer além de simplesmente esperar?

Para a Chevron, abandonar a Venezuela não é uma opção, dadas as potenciais oportunidades que ainda existem. A empresa precisa de reservas para substituir os recursos da Bacia do Permiano – o maior campo petrolífero dos EUA- que está atingindo sua maturidade, e seu projeto de entrar na vizinha Guiana suspenso em uma  corte de arbitragem de Londres. A Chevron demonstrou sensibilidade em relação a questões de direitos humanos em outras partes do mundo, abandonando operações em Mianmar no ano passado. Mas as maiores reservas do mundo de petróleo, que pertencem a Venezuela, significam que a companhia está disposta a tolerar situações que não aceitaria por um simples projeto de gás natural na Ásia. De acordo com a Anistia Internacional, pelo menos 24 pessoas morreram na Venezuela só no ano passado, como resultado da repressão governamental. Quase 8 milhões fugiram do país.

A Chevron tem mais de um século de história na Venezuela, tendo começado explorações lá em 1923. Seus ativos atuais no país incluem participações nos projetos Petroindependiente, Petropiar e Petroindependencia, em parceria com a companhia estatal de petróleo PDVSA. A joia da coroa é sua participação de 39% na joint venture Petroboscan, que opera o campo Boscan, estimado em até 35 bilhões de barris de petróleo original. Embora nem todo esse petróleo seja possível de extrair com a tecnologia atual, ele representa cerca de nove vezes o valor de mercado atual da Chevron e é um motivo mais do que suficiente para lutar com unhas e dentes para permanecer no país. A empresa não reporta mais reservas provadas de seus ativos na Venezuela em seus relatórios financeiros, mas qualquer retorno à normalidade seria um grande impulso para seu balanço patrimonial, quando quer que isso finalmente aconteça e com quem quer que assuma o poder.

A administração Trump está se equilibrando na corda bamba no coração do Partido Republicano da Flórida, tentando impedir facções opostas de entrar em um confronto aberto. Seu último movimento estratégico que ao mesmo tempo agrada a ala linha-dura e preserva a possibilidade de a Chevron retomar operações no futuro, sugere que quer manter suas opções abertas simplesmente porque não há uma alternativa melhor. Ambos os lados podem interpretar essa última decisão como uma vitória para seu público, mas a realidade é que o impasse contínuo tende a resultar em um grande e singular fracasso para todos, perpetuando o status quo do declínio lento e da miséria.

Porém, como alerta o analista de riscos políticos James Bosworth em um recente boletim informativo, os fatores mais imprevisíveis podem vir de fora dos EUA, e o cenário de baixos preços do petróleo pode impactar o governo de Maduro tanto quanto as sanções.

“Embora a China seja um comprador disposto e ansioso e Maduro continue recebendo apoio de outros aliados como a Rússia e o Irã, nada disso está garantido no futuro”, escreveu Bosworth. “Negociações relacionadas à Ucrânia, o programa nuclear iraniano ou China-Taiwan podem impactar diretamente o apoio internacional que Maduro recebe… e o fato de o presidente da Venezuela ser rejeitado pela grande maioria da população continua sendo sua maior vulnerabilidade.”

Em outras palavras, o cenário não depende apenas dos EUA. E como sugere a frase que ficou famosa na obra O Sol Também se Levanta de Ernest Hemingway, mudanças acontecem “gradualmente, e então de repente”. Pode ter certeza que a Chevron fará tudo que estiver ao seu alcance para ficar aguardando nesse meio tempo, pois até mesmo o “gelo” na Venezuela é quente e com um potencial gigantesco.