BTG Pactual (B3: BPAC11) quer aproveitar o crescimento das exportações agrícolas do Brasil para enfrentar as multinacionais de negociação de commodities

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O BTG Pactual (B3: BPAC11), sediado em São Paulo — atualmente um dos maiores conglomerados financeiros da América Latina — busca aproveitar a onda de crescimento das exportações agrícolas do Brasil para expandir seus negócios e competir com multinacionais renomadas de negociação de commodities, como Cargill e Bunge (NYSE: BG). Essa estratégia faz parte de um plano audacioso idealizado pelo presidente do conselho, André Esteves, que deseja posicionar o banco de investimentos e gestor de fortunas como um polo regional, funcionando como um “porto de entrada e de saída”.

“O BTG pode oferecer aos seus clientes um serviço que vai desde a porteira da fazenda até a entrega para um comprador chinês, ou um comprador árabe em Abu Dhabi, ou na Índia… um serviço tão competitivo quanto ou até mais do que o das grandes casas de negociação”, disse Esteves em uma recente entrevista ao Financial Times. “Vejo uma grande expansão acontecendo na Ásia no mundo das commodities.”

Mesmo com uma intensa atividade de fusões e aquisições e após registrar receita e lucro líquido recordes no último ano, fica claro por que o BTG deseja expandir ainda mais sua presença no crescente setor agrícola brasileiro — setor que, segundo Esteves, deverá fornecer 80% da demanda adicional de alimentos ao redor do mundo ao longo dos próximos vinte anos. O país Sul-americano, que já é um dos maiores produtores de alimentos do mundo, segue registrando exportações agrícolas próximas dos níveis máximos históricos e, em março, enviou mercadorias ao exterior no valor de US$ 15,6 bilhões, representando quase 54% das exportações totais do país.

“Os resultados de março reforçam a crescente força internacional do agronegócio brasileiro, mesmo diante do aumento das tensões comerciais globais”, afirmou o secretário de Comércio, Luis Rua, em um comunicado.

Comércio como amortecedor econômico

Ao longo do último ano, o Ministério da Agricultura do Brasil destacou diversos acordos que ampliaram o acesso ao mercado para produtos como carne bovina no Vietnã, frango na Malásia, gado na Turquia e cítricos na Índia. Segundo o Serviço de Pesquisa Econômica do Departamento de Agricultura dos EUA, o Brasil — o quinto maior país do mundo em área territorial e o sétimo em população — possui uma das poucas geografias capazes de permitir uma expansão tanto de suas áreas agrícolas quanto dos níveis de produtividade.

“O Brasil passou por uma transformação notável, de exportador de produtos agrícolas tropicais—como café (ICE: KCN5), açúcar (ICE: SBN5) e cacau nas décadas de 1960 e 1970—para se tornar um grande fornecedor global de soja (CME: ZSNG), produtos de soja, milho (CME: ZCN5), algodão, açúcar, café, suco de laranja, carne e etanol desde o início do século XXI”, destaca um relatório do órgão. “Atualmente, o Brasil é um importante concorrente agrícola dos Estados Unidos nos mercados internacionais para muitas dessas commodities.”

De fato, enquanto os EUA enfrentam negociações comerciais em diversas regiões do mundo após implementar tarifas abrangentes no mês passado, muitos  especulam que o Brasil possa ser um dos principais beneficiários dessa nova dinâmica. Diante desse cenário, o plano de Esteves de expandir a presença do BTG na negociação de commodities parece promissor, especialmente considerando que a complexa  burocracia e o intrincado ambiente político do Brasil podem tornar uma empresa brasileira difícil de superar no próprio país. No entanto, trata-se de um setor competitivo, que conta com, além de outros players internacionais como Archer-Daniels-Midland (NYSE: ADM) e Louis Dreyfus Company, diversas empresas nacionais já atuantes, incluindo a SLC Agrícola (B3: SLCE3).

Risco cambial permanece

A agência de classificação de risco Fitch elevou sua perspectiva sobre o BTG no final do ano passado, de estável para positiva, citando a crescente diversificação dos negócios, a boa gestão de riscos de crédito, a melhoria da qualidade dos ativos e a administração prudente da liquidez. No entanto, como qualquer observador que acompanha o Brasil sabe, há a volatilidade da economia brasileira que pode alternar rapidamente entre períodos de crescimento e recessão, além de que o país tem costume de às vezes atrapalhar a si mesmo. Enquanto a Deloitte Global Economics Research Center prevê que as fragilidades das contas públicas contribuirão para o aumento da inflação e prejudicarão o crescimento do PIB este ano, também afirma que a expansão do comércio será um ponto positivo mesmo com o enfraquecimento da demanda interna. Enquanto isso, as eleições presidenciais de 2026 prometem um ano agitado para o país.

E é exatamente essa incerteza macroeconômica que os investidores do BTG devem ter em mente. As ações da empresa, por exemplo, subiram 6% ao longo do último ano, mas o real brasileiro, que as precifica, desvalorizou 11% frente ao dólar americano no mesmo período.

Em um horizonte de longo prazo, o risco cambial tende a se equilibrar. As ações do BTG valorizaram quase 300% nos últimos cinco anos, enquanto o S&P 500 subiu 92% e o real — embora volátil — se manteve praticamente estável. Isso significa que o “Goldman Sachs dos Trópicos” superou seus concorrentes nacionais e internacionais no longo prazo, apesar da volatilidade cambial, que adiciona uma camada de complexidade para investidores com um prazo mais curto. O BTG está acelerando um motor potente e o destino é obvio, mas, no Brasil, mesmo os melhores pilotos devem estar preparados para enfrentar alguns buracos — ou até um deslizamento de terra — no caminho.