O novo CEO da Intel (NASDAQ: INTC), Lip-Bu Tan, tentará resgatar um gigante caído

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Conquistas passadas não garantem um sucesso futuro, mas isso não impedirá o novo CEO da Intel (NASDAQ: INTC) de tentar. Ele fez essa afirmação na semana passada em uma carta aos funcionários da empresa, outrora uma gigante que dominava o setor de tecnologia dos EUA, mas que agora virou um azarão, cheia de problemas, ficando atrás dos concorrentes, perdendo dinheiro rapidamente e correndo o risco de ser desmantelada pelos seus ativos ou comprada integralmente.

“Acredito com cada fibra do meu ser que temos o que é preciso para vencer”, disse Lip-Bu Tan, relembrando seus dias como atleta universitário e acrescentando que não há nada que ele odeie mais do que perder. “Uma das coisas que vocês aprenderão sobre mim é que nenhum desafio me detém.”

Diferentemente do ex-CEO Pat Gelsinger—que cresceu na Intel como o principal arquiteto do chip i486 tempos atrás, na década de 1980—Tan deve trazer a perspectiva de alguém de fora para a gigante em dificuldade, que está correndo para alcançar concorrentes como a NVIDIA (NASDAQ: NVDA), cujos chips dominaram o boom da IA. Contudo, ele não é estranho ao setor de semicondutores e possui ligações profundas e raízes espalhadas pelo Vale do Silício, tendo fundado uma empresa de capital de risco chamada Walden International quase quatro décadas atrás, focada em investimentos na área de tecnologia da informação. Ele até foi chamado de “Sr. Chip” devido a sua relação de longa data com a área de semicondutores.

Tan também possui uma experiência anterior em reestruturação, a da Cadence Design Systems (NASDAQ: CDNS), onde seus 12 anos como CEO da empresa, que desenvolve softwares usados para projetar semicondutores, fizeram com que a receita mais do que dobrasse, enquanto o preço das ações aumentou mais de 3.200%.  Muitos afirmam que ele tem uma inclinação por terceirizações, o que poderia ajudar a Intel a focar em suas capacidades principais enquanto busca ajuda externa onde necessário. Diz-se que Tan pensa em fazer mudanças significativas nos processos de fabricação e na estratégia geral de IA da empresa, além de eliminar a gestão intermediária.

Uma mudança radical à vista

Embora a sua esperada estratégia inicial tenha algumas semelhanças com a que Gelsinger tentou usar para salvar a empresa, a Reuters  publicou que Tan tem sido extremamente crítico em relação à forma como seu antecessor a executou, que foi vista por alguns como “muito branda”. Tan havia renunciado  ao cargo no conselho da Intel no ano passado após expressar, no privado, frustrações com a cultura da empresa, o que torna sua nomeação quase que uma reviravolta e sugere que uma mudança drástica pode estar próxima. Os investidores têm reagido positivamente à notícia, com as ações subindo 30% desde que Tan foi nomeado para o cargo mais alto na semana passada, após terem caído até 57% ao longo do último ano.

Quando assumir as rédeas da empresa esta semana, Tan provavelmente terá que primeiro avaliar como lidar com a problemática unidade de fabricação de chips, em meio a especulações recentes de que ela poderia ser desmembrada. A Intel tomou medidas para reestruturar sua unidade de fabricação de chips no ano passado, antes de Gelsinger ser afastado em dezembro, e houve relatos de que tanto a Taiwan Semiconductor Manufacturing Co. (NYSE: TSM) quanto a Broadcom (NASDAQ: AVGO) poderiam estar interessadas em adquirir partes do negócio. Tan ainda não forneceu muitas dicas sobre como pode estar querendo resolver esta situação, limitando-se a dizer que a Intel será uma “empresa focada em engenharia”.

“Nas áreas onde já somos fortes, precisamos intensificar nossos esforços e ampliar nossa vantagem”, disse ele aos funcionários. “Nas áreas onde estamos atrás da concorrência, precisamos correr riscos calculados para inovar e superar.”

O Lago Walden

Tan—que inicialmente estudou física na Universidade Tecnológica de Nanyang, em Singapura, e também possui um Mestrado em Engenharia Nuclear pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e um MBA pela Universidade de São Francisco—diz que gosta de nadar, esquiar na neve, pescar com iscas artificiais, caminhar, passar tempo com sua família e ir a igreja. Ele também gosta de ler, e suas referências literárias podem oferecer as melhores pistas sobre sua visão de longo prazo para a Intel.

Tan deu nome a sua empresa de capital de risco inspirado no clássico livro Walden, de Henry David Thoreau. Elogiando o escritor americano em um discurso em 2020, o executivo disse que as lições do tempo solitário de Thoreau no lago Walden, na década de 1840, que serviram de inspiração para a obra, poderiam ser aplicadas à indústria de semicondutores devido aos seus longos ciclos de investimento.

“Ele viveu uma vida extraordinariamente simples e, ao final, alcançou o auge da filosofia mundial, deixando uma história que será lembrada por eras na história da literatura,” disse Tan. “A essência dos investimentos é semelhante: as grandes verdades são sempre simples.”

É outro escritor, no entanto, cujo trabalho pode indicar o que Tan pretende fazer agora na Intel. Neste mesmo discurso, ele repetiu uma história contada pelo teólogo holandês Henri Nouwen sobre um escultor talhando um leão a partir de um bloco de mármore. “Antes de ver o leão, eu já sabia que ele estava dentro do mármore, porque eu o vi em meu coração,” Tan citou Nouwen como havendo dito. “O segredo é que o leão no coração reconhece o leão escondido no mármore.”

O trabalho de Tan agora na Intel é essencialmente o mesmo: ele vê um leão preso e agora tem a tarefa de esculpi-lo cirurgicamente, em uma última tentativa de resgate. A escolha dele como CEO sugere que uma estratégia de longo prazo está em jogo, marchando ao ritmo de um percussionista diferente, como Thoreau descreveu em Walden. A questão agora é por quanto tempo os investidores vão conceder-lhe sua paciência, já que consertar a Intel pode levar anos. Michelangelo não esculpiu Davi da noite para o dia.