A Defesa Europeia está transformando cautela em um grande atrativo

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O CEO da Dassault Aviation (CBOE: AM) — a fabricante francesa de caças militares e aeronaves executivas — previu cautelosamente uma situação, no início deste mês, dizendo que as  prováveis novas tarifas dos EUA adicionaram um nível de incerteza à sua última previsão. No entanto, os negócios da empresa estão em expansão, e a indústria de defesa europeia como um todo está emergindo como um dos maiores possíveis beneficiários de uma nova ordem mundial que se realinha.

“A ideia é substituir um guarda-chuva americano menos confiável por um europeu mais forte”, disse Éric Trappier em uma entrevista à Boursorama, referindo-se aos apelos do presidente francês Emmanuel Macron para que a região aumente os gastos com defesa para mais de 3% do PIB, em meio à pressão contínua da administração do presidente dos EUA, Donald Trump. Essa situação, junto com a ameaça de tarifas, parece ser o momento certo para impulsionar um punhado de empresas que poderiam se apresentar para atender a demanda europeia de dentro da Europa, mesmo com a baixa de mercados internacionais mais amplos.

“A confiança dos investidores cresce à medida que a dinâmica geopolítica muda”, continuou Trappier. “Com a diminuição da dependência dos EUA, os investidores veem as empresas de defesa europeias — e especialmente as francesas — como apostas sólidas de longo prazo.”

De fato, as ações da Dassault Aviation subiram quase 60% no acumulado do ano, enquanto o S&P 500 caiu 4,6% e o EURO STOXX 50 — que rastreia as principais empresas blue-chip (ações com grande liquidez na bolsa de valores) da zona do euro — subiu 9,5%. No mesmo período, as ações da empresa francesa de defesa aeroespacial Thales SA (CBOE: HO), da sueca Saab AB, da alemã Rheinmetall (CBOE: RHM) e da italiana Leonardo S.p.A. (CBOE: LDO) dispararam 81%, 77%, 95% e 75%, respectivamente.

O ETF (Fundo negociado em bolsa)  iShares US Aerospace & Defense, que detém ações aeroespaciais e de defesa dos EUA, subiu 2% este ano, exemplificando o quanto os concorrentes europeus superaram seus pares americanos.

É difícil se livrar da dependência

Apesar do otimismo do mercado com o segmento europeu, o problema está nos detalhes. Trappier disse que 55% das importações da área de defesa da Europa vêm atualmente dos EUA, e uma mudança provavelmente não acontecerá da noite para o dia. Ele disse que cada país da região precisará de “força de vontade” para mudar as preferências e estruturas do mercado.

“A verdadeira preferência europeia precisa de vontade política e coerência estratégica”, disse Trappier. “Trump claramente quer que a Europa assuma mais responsabilidade na defesa, como visto na Ucrânia. A disposição e a capacidade da Europa de preencher o vazio deixado pelo diminuído apoio americano permanecem incertas.”

Ressaltando o quão difícil pode ser reduzir as importações da área de defesa vinda dos EUA, o Instituto Internacional de Pesquisa da Paz de Estocolmo disse esta semana que os membros da OTAN da Europa têm, na verdade, aumentado sua dependência de produtos americanos, apesar dos esforços para reduzir a dependência.

“A relação transatlântica de fornecimento de armas tem raízes profundas”, escreveu Pieter Wezeman, pesquisador sênior do Programa de Transferência de Armas do SIPRI, em um relatório. “Os estados europeus da OTAN têm quase 500 aeronaves de combate e muitas outras armas ainda encomendadas dos EUA.”

Acúmulo na carteira de pedidos

A Dassault Aviation, por sua vez, já vinha registrando um grande aumento nas vendas mesmo antes da última rodada de posicionamento geopolítico começar pra valer no início deste ano. Em 2024, a empresa viu a entrada de pedidos subir para 10,9 bilhões de euros, ante 8,3 bilhões de euros no ano anterior, graças ao sucesso de seus programas de caças Rafale e jatos executivos Falcon. Atualmente, possui uma carteira de pedidos de 299 aeronaves, em comparação com 295 no ano anterior, o que ajudará a garantir resultados sólidos este ano, mas também limitará qualquer grande surpresa favorável em meio aos desafios contínuos da cadeia de suprimentos.

Embora a empresa esteja bem posicionada para se beneficiar de qualquer aumento na demanda por seus produtos na Europa, ela também tem um ás na manga que pode protegê-la de tarifas, caso elas surjam: grande parte de sua produção de jatos executivos já ocorre nos EUA. “Uma parcela significativa — aproximadamente metade — do trabalho da Falcon, principalmente as finalizações de interiores, ocorre em Little Rock, Arkansas, mitigando parte do impacto”, disse Trappier.

A Dassault Aviation, em outras palavras, está bem preparada para prosperar em ambos os lados do Atlântico, mesmo que as tensões geopolíticas e comerciais continuem aumentando. A questão agora é se as outras grandes empresas de defesa da Europa também conseguirão corresponder às grandes expectativas que estão surgindo.