CoreWeave (NASDAQ: CRWV) está se tornando um indicador da IA comoditizada

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A CoreWeave (NASDAQ: CRWV), uma “hyperscaler” (empresa que opera data centers massivos e fornece serviços de computação em nuvem em grande escala para uma vasta gama de clientes em todo o mundo) de IA que permite que desenvolvedores de aplicativos aluguem capacidade de GPU na nuvem, foi um dos IPOs mais aguardados dos últimos anos. No entanto, sua estreia no mercado  foi decepcionante, com ações caindo 10% abaixo do preço inicial nos primeiros dois dias de negociação. Porém, um dia depois, elas dispararam e continuam em alta com um ganho de quase 18%, apesar de uma liquidação generalizada do mercado durante a semana passada.

O processo de oferta pública inicial (IPO) é um negócio arriscado. Segundo a Nasdaq, cerca de 31% das IPOs perdem valor já no primeiro dia de negociação, e após três anos, dois terços das empresas acabam tendo um desempenho abaixo do mercado, enquanto apenas algumas seletas vencedoras conseguem dobrar ou triplicar de preço. A volatilidade que permeou a estreia da CoreWeave mostra que o mercado ainda está tentando descobrir como colocar preço em uma das poucas empresas puramente focadas na ascensão da IA.

“As avaliações iniciais das ações geralmente são baseadas em fluxos de caixa futuros” escreveu o economista-chefe da Nasdaq, Phil Mackintosh, complementando que os lucros não parecem ser tão importantes, pelo menos inicialmente. “Empresas que registram vendas mais expressivas na data do IPO tendem a ter melhor desempenho do que aquelas com vendas menores e uma penetração de mercado menos consolidada.”

E é nesse aspecto que a CoreWeave não decepciona. A empresa teve um crescimento na receita impressionante, de 737% no último ano, alcançando US$ 1,9 bilhão e grande parte das vendas vem de contratos de longo prazo com clientes de peso, como a Microsoft (NASDAQ: MSFT). Além disso, a previsibilidade que os investidores buscam está presente em seus 32 data centers operando mais de 250.000 GPUs e nas garantias que tem de um suprimento adicional de energia elétrica, permitindo que a empresa continue crescendo sem se preocupar em procurar mais capacidade de geração—um gargalo crítico que surge no setor.

A vida útil das GPUs pode se tornar um problema

Isso não significa que não haja preocupações, e embora o desempenho da empresa irá, em última instância, melhorar ou piorar dependendo do apetite do mercado por soluções de IA, ela também está prestes a testar um novo desafio: a longevidade de gerações anteriores de GPUs. A maior parte da infraestrutura atual da CoreWeave é baseada nos chips Hopper produzidos pela Nvidia (NASDAQ: NVDA), que em breve podem ser ofuscados pelo mais recente, a geração Blackwell . O CEO da Nvidia, Jensen Huang, alimentou esses receios no começo do ano ao comentar, aparentemente em tom de brincadeira, que “quando os chips Blackwell começarem a ser produzidos em larga escala, ninguém vai conseguir oferecer gratuitamente os Hoppers.” A CoreWeave enfrentará um grande problema se a demanda por seus chips Hopper cair antes de conseguir pagar os bilhões que investiu na compra.

No entanto, a possível obsolescência dos Hopper pode não ser algo tão negativo, e há boas razões para acreditar que a CoreWeave ainda conseguirá lucrar com esses chips por anos. Para começar, a disputa pela oferta dos chips Blackwell será acirrada, o que pode frear a implementação em larga escala e isso pode manter os Hopper em demanda por mais tempo.

A empresa, por sua vez, também pode se beneficiar de um fenômeno amplamente conhecido quando se fala em congestionamento de automóveis: o alargamento de rodovias não diminui o congestionamento, pois os motoristas respondem viajando mais. Mais estradas simplesmente resultam em mais congestionamento – com motoristas indo mais longe, mais rapidamente- e mais data centers e mais chips podem simplesmente resultar em novas aplicações para IA.

O CEO da CoreWeave, Michael Intrator, sugeriu essa possibilidade em uma recente entrevista à Fortune, publicada logo após alguns rotularem o IPO da empresa como um “ desastre “. “Há uma divergência entre o que os mercados financeiros e a mídia estão pensando e o que eu estou sentindo na linha de frente”, afirmou. “O que eu sinto é uma demanda incessante.”

O Paradoxo de Jevons

Uma teoria econômica conhecida como o Paradoxo de Jevons — que postula que maior eficiência e queda de preços levam ao aumento da demanda — já poderia estar provando que sua intuição está correta. A capacidade de geração de imagens recentemente atualizada da OpenAI, que fez com que todos nas redes sociais corressem para criar e postar imagens de si mesmos no estilo do famoso gigante japonês de animação Studio Ghibli, é o caso mais recente.

“Trabalhando o mais rápido possível para realmente fazer as coisas funcionarem; se alguém tiver capacidade de GPU em blocos de 100 mil que possamos obter o mais rápido possível, por favor, ligue!”, escreveu o CEO da OpenAI, Sam Altman, no X na semana passada, acrescentando que a demanda pelo serviço estava “insana”. “O lançamento do ChatGPT há 26 meses foi um dos momentos virais mais loucos que já vi, e adicionamos um milhão de usuários em cinco dias. Adicionamos um milhão de usuários na última hora.”

De fato, a demanda pela vaidade humana não conhece limites, e isso é uma ótima notícia para a CoreWeave. À medida que mais aplicações de IA de ponta migram para Blackwell, o mercado de chips Hopper ainda pode crescer, pois eles suportam a carga de tarefas menos complexas procuradas por mais pessoas. O lançamento contínuo de agentes de IA que podem trabalhar autonomamente testará ainda mais essa teoria.

Os investidores da CoreWeave estão apostando que o mercado para a IA obsoleta e comoditizada de amanhã poderá ser enorme, com muito fluxo de caixa para todos. Mais capacidade de IA pode resultar em mais usuários de IA, e algumas das coisas que eles fazem com ela podem realmente até ser úteis.